SÉRIE: HORTA DO CONCURSEIRO

OU TRABALHA, OU ESTUDA: DÚVIDA CRUEL?!

Wilson Henrique Gomes

          “Meu irmão mais novo, que é médico, quando tinha 12 anos, disse pro meu pai que não queria mais estudar. Meu pai disse que não tinha problema, mas ele teria de trabalhar. E como não sabia fazer nada, porque era criança, poderia ser engraxate. Meu irmão concordou, feliz da vida. No fim do dia meu pai chegou em casa com todos os apetrechos; no dia seguinte, às 7 da manhã, acordou meu irmão e mandou ele ir pra rua da igrejinha (morávamos na 107 sul) pra ir trabalhar. Minha mãe quase morreu. Às 9:30 meu irmão voltou dizendo que queria voltar a estudar”

          Tempos bons em que o oposto a estudar era trabalhar. Na VIDA ADULTA, porém, o ordinário e comum é que as pessoas se engajem num trabalho remunerado para se manter. É parte da autonomia, sustentar-se. A alegria de ser independente exige o esforço em se manter.

          Para o concurseiro comum, para a maioria, é um fato da vida: estudar e trabalhar. E ter família. E ter filho. E ter pais para cuidar. A exceção é o contrário: “quem só estuda”.

Umas aspas aqui:

“Se acostume a VIDA REAL é algo difícil de lidar para as gerações dos últimos decênios. Inclusive a minha.”

“Esperamos o momento ideal, tantas vezes, não é minha filha?”

“Expectativa do dia perfeito, o horário perfeito, o livro perfeito, o local perfeito, para ter a sacada perfeita e perfeitamente passar num concurso perfeito sem esforço.”

“É aquela expectativa de filme de Sessão da Tarde, ou do seriado da Netflix: um ato do destino, um fato fenomenal,  ou deus ex maquina[i].”

“Isso é um sintoma do mal do Século, do nosso século. “

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          Então, o concurseiro ordinário  – como eu – tem no fundo da alma, às vezes à flor da pele, o sentimento de “uma ação extraordinária” que vai lhe poupar o desgaste que é estudar.

          A verdade é que essa ação extraordinária é o esforço ordinário, diário e diuturno.

          Não espere não trabalhar, não espere o dia perfeito, a conjunção astral perfeita, não espere a megasena de 100 milhões, não espere o dia que seu chefe vai te reconhecer e diminuir um pouco seu trabalho. NÃO ESPERE. COMECE. COMECE SEMPRE. COMECE AGORA.

          Aprenda a fazer do estudo uma parte de sua vida ordinária. Acostume-se a pensar que você precisa estudar e colocar isso na dimensão da prioridade, mas não da centralidade, como bem diz aqui o grande Márcio (https://professoracarlapatricia.com.br/icp/2020/05/14/serie-como-estudar-3/).

          Entenda que é preciso seguir o roteiro (projeto de estudo seu ou oferecido por terceiros) como parte de sua rotina,  no dia-a-dia. O extraordinário brotará daí. Dessa observância costumeira. O extraordinário é no caminho conhecido ver brotar a satisfação da chegada quando já longínqua a partida.

          Por último, não se sinta mal se você não trabalha e “só estuda”. É a sua vida, sua história. Seu caminho. Ou se você pode ter alguém que te ajude a se manter, aproveite isso a seu favor! Não seja “culpado”, não tenha a mentalidade de usurpação, de rancor por ter uma oportunidade porque os outros não a têm. Aproveite-a! Exatamente por você ter esse benefício ou facilidade você tem o “dever” de aproveitar cada minuto.

          Nessa situação, se você pode, coloque algo a mais nas suas tarefas diárias de estudo. Exatamente porque VOCÊ PODE. É uma bênção e não maldição! Uma oportunidade na vida.  Livre-se do ranço!

          Estudar é uma atividade humana grandiosa. Não se opõe ao trabalho, não se opõe à vida. É parte dela para quem quer passar num concurso difícil,  alcançar a realização pessoal.

          Ah! prazer, Concurseiro Verdadeiro (correr aqui que o cronograma está atrasado e tem live de quarentena agora à noite, que ninguém é de ferro!)

[i]“Artifício usado por alguns escritores ou dramaturgos, o deus ex machina é uma expressão latina, de origem grega, que significa literalmente “deus surgido da máquina” e é utilizada para indicar uma solução inesperada, improvável e mirabolante para terminar uma obra ficcional.” (https://www.spescoladeteatro.org.br/noticia/ponto-afinal-o-que-e-o-deus-ex-machina/)

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2 comentários

  1. Ao fim e ao cabo, o concurseiro ordinário, de tanto cair e levantar seguindo o roteiro (que é imprescindível e o único caminho) acabará se tornando o concursado extraordinário, aplaudido e ovacionado no dia de sua posse, por aqueles que certamente acharão que foi “apenas sorte” a sua aprovação.
    Parabéns pelos pensamentos grande colega. E no dia da sua posse, eu estarei lá e saberei qual foi a “sua sorte” de estar ali colhendo os frutos da sua dedicação.

  2. Excelente texto! A importância de ser fiel no muito ou no pouco em tudo na vida. E ainda ser grato e aproveitar as oprtunidades, seja grande ou pequena.

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